[Residência] Kazuaki Yuki

A sensação de quando se acorda é algo extremamente peculiar e um tanto estranho, aquele leve movimento de duas pálpebras se abrindo enquanto sua mente sente ainda um leve desconforto por conta do sono, é algo realmente admirável e que consigo aproveitador sem nenhum pudor. As primeiras vozes que é possível ouvir ao acordar são a de pássaros cantando, aquilo sempre me alegrava e até hoje eu não consigo dispensar tal benevolência.

O dia anterior havia sido deveras produtivo, consegui descobrir uma forma interessante de treinar meu autocontrole assim como manipular melhor o meu chakra, e hoje, era o dia de conseguir realizar um progresso maior ainda. Tomei vergonha na cara e saí para o belo jardim que me aguardava atrás da casa. Mas a quem será que estou enganando? Aquilo não passava de um quintal desarrumado, enfim não havia nada a se fazer sobre, tudo que estava ao meu alcance era tentar conviver com os meus problemas, e este sim era o segredo.

Concentração! O que eu mais precisava no momento era me concentrar em meu treinamento. Como aprendido em meu último treinamento, isso se pudermos chamar aquilo de treinamento, o controle de chakra podia ser melhorado através da concentração no fluxo da vida de algum ser vivo. Bom, quem poderia ser a melhor cobaia para isso senão eu mesmo? Fechei meus olhos e tentei fazer alguma coisa relacionado ao meu chakra, eu não podia vê-lo mas podia senti-lo. Comecei a prestar atenção em mim mesmo e no fluxo de energia que atravessava cada molécula do meu corpo, acho que é isso que chamam de pequeno universo dentro de si. Pude sentir cada conexão, cada fibra do meu corpo preenchido por essa energia que chamamos de chakra, era uma sensação maravilhosa, comecei tentando fazer com que ele passasse do meio interno para o externo, um transporte passivo, diga-se de passagem, fazendo com que um pouco do meu pequeno universo passasse a fazer parte de algo muito maior e mais importante.

Me senti um pouco exausto com todo aquele treinamento, decidi levantar e buscar algo diferente para manipular o chakra, já que meu corpo não estava aguentando mais. Fui em busca de alguma outra pessoa para fazer o mesmo, já que até hoje o chakra só demonstrou se manifestar em seres humanos e em nada mais. Após caminhar muito pela estrada cheguei até uma parte mais povoada da aldeia, diversas pessoas caminhavam de um lado para o outro conversando e comprando, a vida na cidade era sempre assim bastante movimentada, cheia de comercio, bate-papos, brigas e reconciliações, mas tudo isso era irrelevante no momento, já que tudo que eu precisava era de uma cobaia simples e compreensível.

Gastei muito tempo do meu dia em busca de alguém para me ajudar, mas a maioria ou demonstrava desinteresse e falta de tempo ou medo de algo dar errado, contudo, um deles demonstrou ser totalmente diferente e disse que poderia me ajudar, era um senhor já de idade que dizia já ter lutava bravamente pela aldeia da nuvem, mas que hoje seu corpo já não lhe era mais útil e o impedia de continuar com sua luta, um aposentado(pensionista).

Segurei as duas mãos do pobre senhor e fechei os olhos para adquirir uma maior concentração, pude sentir seu chakra fluindo por todo o corpo indo desde a ponta dos pés até o mais alto reflexo do sol em cima de sua careca. Utilizei da experiência que fiz comigo mesmo mais cedo como base para meu treinamento com o velhinho, fiz com que seu chakra trocasse de fluxo e até mesmo passasse para fora de seu corpo, era algo realmente magnifico, mas por mais que eu tentasse eu não conseguia absorver o chakra dele, e isso me deixava intrigado. Sempre visando a segurança daquele senhor, fiz o meu melhor e testei diversas experiências com seu chakra, algumas davam certo e outras não manifestavam nenhum tipo de comportamento, me parece que essa natureza humana é algo realmente muito intrigante.

Ao final do dia voltei para minha casa me sentindo um vitorioso, tudo tinha dado certo e eu tinha aprendido muito mais do que imaginava, mas agora tudo que eu pensava era em poder tirar um cochilo para poder renovar minhas energias.

Contemplar mais um dia de vida, bom, acho que é isso que as pessoas normais costumam fazer, entretanto, eu era diferente, muito diferente, costumava ter muita dificuldade em aceitar todas as desgraças que aconteceram dentro da minha família, e é sobre isso que se trata o treinamento que irei realizar hoje, aceitar e conviver com as trevas do meu passado, para que então eu pudesse seguir em frente com minha vida, conquistar novos amigos, trazer vários troféus para minha vila e muito, muito mais.

Ao levantar da minha cama lembrei dos meus objetivos, das minhas ambições e o que eu tinha de fazer hoje, logo saí de casa correndo indo em direção a cidade, eu não queria que isso se tornasse um hábito, mas não havia outra solução, pois afinal nem tudo pode-se resolver sozinho.

Após uma longa corrida finalmente podia-se avistar a aldeia, não havia nada de novo, nada de diferente, a mesma Kumo sempre movimentada e cheia de alegria, e justamente por continuar sendo a mesma, é que eu percebi que deveria procurar por uma ajuda em outro lugar, ou melhor dizendo, na academia ninja. A caminhada até lá não era muito longa, apenas alguns metros e já podia ser avistada. Ao tentar entrar fui barrado por um Jounnin de longa estatura e cabelos negros, ele me disse que hoje a academia estava fechada e que só abriria no dia seguinte. Retornei para casa meio cabisbaixo, as horas estavam passando e eu ainda não havia treinado nada, foi então que num jogo rápido fui puxado para entre arbustos, pude sentir o frio da ponta de uma lamina encostada no meu pescoço.

- Para um gennin você não parece muito preparado para elementos surpresa não é mesmo? – Soou uma voz desconhecida atrás de mim.

- Acho que você deveria prestar mais atenção em sua própria situação – retruquei enquanto movia a minha cabeça fazendo com que meus olhos fossem de encontro a uma kunai que eu mantinha apontada para a parte lateral de sua barriga.

- Hã, parece que você é bem esperto mesmo! – Retrucou a voz desconhecida enquanto me deixava livre.

Olhei para a figura que havia me pego desprevenido, e era um jovem que aparentava ser um ou dois anos mais novo que eu, mas como não possuía a bandana da aldeia eu tive certeza que não era um gennin, sem que eu nem mesmo percebesse a situação rapidamente mudou de figura, ao invés de um rapaz haviam três e dois deles partiram para cima de mim, porém, num ato de reflexo, desviei do soco do primeiro e o apliquei uma joelhada em sua barriga, contudo, recebi em cheio um soco do segundo, mas quando fui revidar fui segurada pelos costas por dois braços, a julgar pela diferença de força notava-se que eram duas pessoas atrás de mim. Espancado, surrado e já com os olhos sangrando fui finalmente liberto daquela covardia, acho que eles finalmente cansaram de brincar comigo, entretanto, eles não esperavam que eu ainda tivesse forças para revidar, aos poucos fui perdendo a noção do quão errado era bater em crianças e sem perceber fui abatendo um a um, podia-se ouvir os gritos e pedidos de socorros daquelas crianças, mas eu não conseguia mais segurar minha raiva e nem mais parar. Um dos garotos, eu não conseguia parar de socar sua face enquanto ele já estava caído no chão, por que eu fazia aquilo? Eu não estava fazendo muito diferente do que eles fizeram comigo, a raiva havia tomado conta do meu corpo e por isso estava realizando aquelas atrocidades, foi então que aos poucos eu fui me autocontrolando para não acabar tirando a vida daquele estudante, ele provavelmente tinha sonhos e metas para o futuro, eu não podia tirar esse direito dele apenas para saciar minha raiva.

Ao final do dia deixei o local indo em direção a minha casa, estava exausto, um banho e alguns curativos básicos iriam servir para que eu pudesse voltar ao normal, e é claro, finalizar tudo aquilo com uma boa noite de sono.

Após um longo treinamento finalmente chego em casa e me deito para uma bela noite de sono.

Havia se passado um grande dia e hoje havia de sair em busca de um novo mestre, Tofune havia me ajudado bastante mas agora eu necessitava de algo diferente.