Desfiladeiro Yosuga

Just go honey.
O vento sereno toca minha face, tem gosto de sal e cheiro de terra, sua carícia me é nostálgica, seu toque me faz estremecer. Meu protegido, ao meu lado continua suas buscas sem prestar muito de sua atenção a minha presença e então apenas permaneço esperando que termine, sentada de frente para o desfiladeiro. Me lembra de casa, de quando outrora saltava pelas montanhas da vila da Nuvem dando trabalho para minha mãe ...Menina, quer matar sua mãe do coração? Você vive, mas e eu?... quando lembro, não era consigo que ela estava preocupada, é óbvio, mas comigo. Sempre me aventurei onde os pés não tocam o chão e a mente determina o limite, isto incomoda aqueles que invejam meu crescimento, meu reconhecimento. Sou praticamente uma heroína de minha nação, lidero e prospero meu clã em seus conhecimentos e poder, quem me acusa, são apenas aqueles que não tem foco para se estabelecerem em tempo tão curto como fiz. Não sou uma prodígio, me distancio deste título, em meus onze anos ainda era apenas uma formanda e hoje, ainda com essa idade, evoluí, lutei, marcado em cada cicatriz de treino, cada tatuagem que tenho em meu corpo.

Em cada ponta de devaneio e nostalgia passeio meus olhos entre o desfiladeiro e o homem explorando a zona íngreme, até um tempo em que o sol agradável da manhã quando cheguei ao local começaria a me incomodar, começaria a olhá-lo inquieta, quase apressando-o a terminar logo aquilo. Não parecia ser o caso. Percebia o mesmo que estava incomodada e sorria pra mim, como se me pedisse calma, não havia palavras, nos entendíamos apenas em expressão, sendo o primeiro deficiente como eu que eu conhecera. Olharia de volta curvando levemente minha cabeça, sorrindo como se dissesse, tudo bem.

Começaria a caminhar em volta, me certificando de que nenhum mal estaria nas proximidades, não tinha essa paranoia de que toda missão tinha um desastre, além disso, mesmo meu nome como protetora do mesmo era um convite a que não tentassem a sorte. Não sou absurdamente forte, mas, minha fama me precede, com minha aparência nada discreta em uma armadura para assassinato, sendo uma kunoichi muda, com a fama de não deixar sobreviventes em suas missões. É, não, eu não sou uma adversária muito agradável para aqueles que não me superem em poder.

Retiro minhas katanas, apenas para um bate papo com minhas amigas, sabe, matar o tempo, afinal, faz tempo que não converso com elas. Fishslim, se pudesse descrevê-la, diria que seria um tipo de mulher alta e forte, cabelos rosas, algumas cicatrizes, um sorriso como o meu e um seis em números romanos, não sei porque, mas, me parece assim. Por outro lado, Zow zow seria uma mulher justa, com um grande chapéu e uma voz grave, sua atitude imponente e ligeiramente apaixonada por Fishslim.

Me pego ali, conversando com minhas armas desembainhadas, em meu diálogo fazendo ronda, até que de repente noto uma silhueta por detrás de um rochedo próximo. Meus olhos antes ligeiramente dispersos se atentariam aquilo, levantando minha guarda e buscando me aproximar devagar e em silêncio, não podia me deixar ser notada, respiração tranquila e passos silenciosos pelo sairentu, quando encoberta pela rocha, numa breve pausa, levantaria minhas armas como no Kumo-ryu, uma volta rápida em salto por cima da estrutura me levaria até a margem que se empunha com um lance rápido de espada, parando a lâmina centímetros antes do pescoço de meu alvo, ou deveria dizer, minha alvo.Não que eu subestimasse a mesma por ser mulher, eu também o era, o que nos diferenciariam é que eu não estaria maquiada e com um vestido chamativo decotado. Ainda assim, não tiraria a lâmina, me lembraria de Benisuzume, apesar de suas roupas, era dotada de grande habilidade.

Sem ferir-la no entanto, ouviria em uma voz fraca pelo susto e gaguejando ...Nã-nã-o me-me mate... Não sabia o que fazer, tinha vontade de findá-la ali mesmo, estaria a espreita olhando para meu protegido, só isso lhe fazia uma suspeita, mas, algo me dizia que não era este o caso. Retornaria minhas lâminas a suas bainhas lhe conferindo descanso e fazia um sinal para que a mulher falasse. Estranhamente, ela sorriria, começando a falar em sinais perguntando se eu era muda. Afirmaria que sim, mas que falasse com sua própria voz, não sou surda afinal.

Uma longa história de amor me é contada enquanto fico com um olho no peixe(homem) outro no gato(arredores), com medo de outra aproximação, nada ocorre. A mulher corre para os braços do homem lhe fazendo sua surpresa e eu os observo feliz. Penso nos dias em que meus pais se conheceram por aqui, em como eu a muito me apaixonei e perdi meu amor. Uma lágrima escorre de meus olhos, enxugada pela doce mulher que me conforta, me trazendo um momento de amizade e felicidade. Não dura muito, afinal, os pombinhos seguem a frente e a mim, cabe carregar suas tralhas paciente em retorno a vila, não que eu reclame, aprendi com a missão de hoje, nem tudo se resume a lutas, nem toda proteção é para si própria, não a dor ou deficiência que não se possa superar. Jogo as coisas e minhas costas, sou forte, treinei meus músculos para carregar algo afinal, e sigo os dois sempre atenta a tudo que acontece em volta.

Kilômetros a frente, seria o momento de repouso, não estaria satisfeito ainda com seus achados, passaríamos a noite ali os três, os dois em sua tenda e eu ao redor montando guarda. Era meu papel afinal, sem queixas, me cento em torno de uma fogueira com ambas espadas em mão, curtindo o vento frio e lembrando de algumas canções em minha mente. É nessas horas que mais machuca, não poder cantar o que aprecio, mesmo que seja como aquelas vozes feias que mais parecem uma gata no cio, invejo, imagino como seria se eu pudesse ser como as grandes cantoras que já escutei. Zow zow me conforta, sempre gentil, de modo que lhe abro um sorriso como quem fala, não se preocupe. Sou forte, suportei toda minha vida meu fardo, não fraquejarei agora.

A noite passa, a lua se faz cada vez mais bela, no alto, mais uma vez me pego em prantos, pensando em minha amada Yui que desaparecera sem mesmo se despedir, não a culpo, apenas gostaria de algo mais concreto para abraçar. Me liberto, pela primeira vez, penso em seguir adiante, tenho lindas mulheres a minha volta, uma em especial, a qual poderia dar alguma atenção. Benisuzume.

Em meu próprio clima especial, penso que seria uma boa o casal desfrutar do luar comigo, apenas por um instante, já que quando me atento a cabana percebo, bem, sons que demonstram que não querem ser incomodados. Minha barriga dói segurando para não gargalhar, além de que esta produz um som estranho de um javali engasgando, não quero que saibam que percebi que as coisas estão quentes.

Seria quase manhã, quando a primeira ação se decorria, esta de verdade. Uma sombra saltava sobre a cabana, covarde, me evitando e buscando apenas os mais frágeis e suas riquesas, me lançaria contra esta, não sabia se daria tempo, se tudo correria bem. Lembranças da história de meu falecido pai me vinha a mente, a mulher ali dentro poderia estar grávida, seria outro filho desolado de uma presença? Me angustio, me revolto, uso essas fúria pára avançar em meu máximo, desferindo um golpe letal e poderoso rasgando o homem no meio. Não teria chance para últimas palavras, retirava seu corpo dali para que não percebessem o que ocorreu o casal. Limparia então o sangue, até que amanhecesse.

Os dois levantariam, o homem ia atrás de seus tesouros, a mulher se sentava comigo para conversar. Estaria realmente grávida, me contava de seus planos de sua alegria, até que era interrompida por seu homem a envolvendo com uma pepita de ouro, teria encontrado, os dois comemoravam, se beijavam e eu desviaria o olho um pouco lhes dando privacidade, já escrevendo meus relatório.

Carregaria seus pertences até a vila, enquanto os dois caminhavam até que em certo ponto o próprio começaria a carregar aquilo os tomando de mim. A mulher vinha, me abraçava e retirava meu capuz revelando minha face e minhas olheiras pelas lágrimas, passando a mão em meus cabelos.

- Obrigada, sei que nos protegeu, dará tudo certo.

Suas palavras doces como as de minha mãe apenas me deixava em lágrimas de novo, me abraçando na mesma e também o homem o fazendo, quase como uma família, visto que eles seriam mais velhos, teria o gosto de desfrutar de uma família completa na vila antes de minha partida, mesmo que não a minha própria. Que em Sunagakure, onde está minha mãe agora, ela esteja tão feliz quanto estou aqui agora, e meu pai, que seu descanso seja pleno.

- É admirável alguém de sua idade carregar seu fardo com sua força, você já sabe disso neh? Nos vemos por aí.

Sairia, os deixando agora salvos, acenando e sorrindo, sim, como um javali soluçando em suas lágrimas e ia até o posto entregar meu relatório.

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